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Re: Iniciando novos usuários era: Esclarecimentos sobre Linux evitam decepções nos novatos



Olá colegas da lista,

Bem, eu ia ficar quietinho nessa discussão, pra não render mais o assunto (que, diga-se de passagem, eu adoro discutir...)  8-). Mas como eu não resisti, aqui vão alguns comentários (desculpem-me pelo tamanho da mensagem):

1) Paradigma. Mudar de paradigma é MUITO difícil. E falo isso da minha experiência enquanto professor (da rede estadual de MG, Kov, sei bem o que a sua mãe passa...  8-) ). Quando você lida com alunos, você está trabalhando mudanças conceituais o tempo inteiro com eles. Basta um professor ter ensinado uma bobagem qualquer para eles e aquilo se torna A verdade. E além disso, temos uma concorrência pra lá de pesada. É duro, por exemplo, explicar porque aquela notícia que apareceu no Fantástico é uma grande duma bobagem, ou porque é impossível alguém viver só "comendo luz". Você está colocando em xeque a posição da grande deusa televisão. Dessa forma, se ele aprende que botão direito serve pra isso, botão esquerdo praquilo e dois cliques praquilo outro, ele imagina que todo e qualquer computador funciona assim. Colegas, a grande maioria das pessoas acham que o Windows É o computador. Já vi casos de pessoas em pânico, porque como o Windows deu um pau qualquer elas achavam que ter
 iam que trocar alguma peça no computador. Daí a brilhante colocação do Rogério que falou que os REALMENTE leigos (ou seja, aqueles que nunca mexeram ou mexeram pouco no Windows) se acostumam bem mais facilmente ao GNU/Linux. Eles ainda não construiram todos aqueles "algoritmos mentais" pra fazer o serviço que eles querem.

2) Marketing. Constatemente escutamos que "quem não sabe trabalhar com o Windows é um analfabeto nesses novos tempos", ou que "qualquer um tem que saber o básico do Windows para ser bem colocado no mercado de trabalho", ou pior ainda, quando aparecem alguns editais de concursos PÚBLICOS (sic!) que exigem, para a prova, conhecimentos de Word e Excel (reparem que não é de processador de textos ou planinha eletrônica), o sujeito pensa "puxa, Windows é tudo o que eu preciso aprender pra ser um cara bacana". Isso sem levar em conta toda a grana em propagandas e etc. Além disso, a M$ usa a típica estratégia de traficantes. A primeira é de graça... Ou seja, primeiro ela deixa todo mundo piratear seus produtos à vontade (ou alguém acredita que ela percebeu que existe pirataria só agora?), aí, quando tá todo mundo dependente (no sentido literal da palavra) ela faz essas campanhas monstruosas anti-pirataria. E todo mundo endoida atrás de licença... De quebra, ainda tem o "apoio" ao CDI
  (Comitê pela Democratização da Informática), onde ela libera a licença de uso dos seus produtos nos laboratórios de informática montados pelo centro (detalhe: LIBERA a licença, não fornece nenhuma mídia, manual ou adjacências). Essa foi uma idéia e tanto, afinal ela não gasta nenhum centavo, cria um puta mercado cativo, afinal as pessoas aprendem a lidar com O Word, com O Excel, com O Windows e não com O computador e ainda faz dupla propaganda: dos seus produtos para os usuários e da sua "generosidade" pra sociedade, por contribuir tanto por uma causa tão nobre (é de causar nojo esse tipo de marketing). Já participei do treinamento do CDI (pra ser instrutuor) e sei muito bem como as coisas funcionam lá. Cheguei até mesmo a pensar em formar o CRDI (Comitê para a Real Democratização da Informática). Alguém se habilita?   8-)

3) Passividade: Grande parte das pessoas (pelo menos fazendo uma amostragem entre os meus conhecidos) aceita de tudo do jeito que vem. Numa frase típica dessas pessoas "ah, as coisas são assim mesmo, pra que mudar?". E encontramos essa postura em várias situações: na hora de votar, de (não) reinvindicar os direitos, nas filas.... e nos computadores. Não, eu NÃO admito receber uma receita médica sem questionar pra que ela serve e eu leio as bulas dos (poucos) remédios que já aceitei tomar. "Ah, mas as bulas são muito complicadas..." Mas elas são assim porque nós aceitamos. Tudo bem que elas devem descrever com detalhes os aspectos relativos àquele medicamento, mas será que não poderia ter uma parte extra em que explicasse, com menos termos técnicos, pelo menos as contra-indicações ou possíveis efeitos colaterais? Alguém já reinvidicou isso? Com os computadores é idêntico. As pessoas estão ficando tão ignorantes (ignorantes não como juízo de valor, mas no sentido de não terem c
 onhecimento das coisas) em relação aos computadores que já me acostumei com pessoas me perguntando onde é que está o Word no computador, porque ela gravou uns textos NO Word e não está encontrando. Ou seja, pra essas pessoas, o Word é uma área do computador onde ela cria textos. Essas pessoas não têm nem noção do que é um programa e do que é um arquivo!!! E isso é facilitar a vida do usuário? Não, isso é criar um exército de zumbis que sabem usar o computador de uma (e somente uma) forma. Mude qualquer coisa e você vai ter gritos e ranger de dentes... Computadores não são televisões, não são máquinas de escrever, não são lavadoras de roupa. São máquinas complexas e para lidar com elas é bom ter um mínimo de complexidade. Isso não é complicar, é ampliar os horizontes. Quantas pessoas não sabem, por exemplo, programar o seu vídeo-cassete? E não vejo nenhuma discussão sobre fazer com que ele se torne mais "amigável".

4) O mito da dificuldade. Na minha humilde opinião de usuário pouco rodado nos sistemas *nix o GNU/Linux não é difícil. É complexo. Pode parecer um simples jogo de palavras, mas não é. Algumas vezes dá trabalho configurar a máquina pra ela ficar com a cara que você quer, mas (com poucos exceções) basta procurar um pouquinho que a resposta aparece (às vezes nem precisa de Internet, o man pode ser o seu melhor amigo). E, na grande maioria dos casos, o problema nem é com o sistema operacional, mas com os fabricantes, que criam os famosos produtos "designed for Windows XX". Exemplos mais gritantes? Winmodems e impressoras sem botões. Detesto ambos. E detesto porque são restritivos, por tirar a liberdade de usá-los de uma maneira diferente. Um exemplo de como os fabricantes podem colaborar com a causa do software livre é o da nVidia. Comprei uma placa GeForce 2 há algum tempo e no CD de instalação da placa tinha o módulo para o kernel e o driver para o GNU/Linux! Achei fantástico!
  Foi só seguir a receita de bolo que veio junto e pronto! placa instalada e funcionando. E no site ainda tem atualizações constantes desses arquivos. Será que é tão difícil pros outros fabricantes fazerem isso? E praqueles que acham o Windows realmente fácil de usar, experimente entregar um computador zerado (HD não particionado inclusive) pra um leigo e peça pra ele instalar o Windows do ponto inicial, com direito a fdisk e tudo. Será que ele vai achar tão simples assim? E, pra dar um toque de sadismo, esconda os CD's de instalação de todos os componentes e periféricos dele (de preferência se a placa-mãe for daquelas tudo-on-board).   8-)

Com tudo isso, companheiros do Debian, considero que essa comparação Windows x GNU/Linux tem que ser relativizada com uma série de questões culturais e comportamentais nossas. Fico imaginando como seria a popularidade do Windows caso a pirataria não fosse tão descarada assim. E acredito em Windows fácil no dia em que:

1) eu puder digitar (ou selecionar numa janelinha) apt-get upgrade e ele atualizar o sistema inteiro sem problemas (ou então, ainda mais divertido, apt-get install word).   8-)

2) eu colocar um CD do Windows, dar boot por ele, o sistema reconhecer os componentes do meu computador (pelo menos a maioria), me fazer no máximo meia dúzia de perguntas e rodar sem problemas e SEM INSTALAR NADA. Faço isso regularmente com o Knoppix (dá-lhe Debian!!!), o meu GNU/Linux de bolso. E adoro ver a cara de bobo dos usuários Windows quando abro uma planilha do Excel no OpenOffice que vem nele...   8-)

Um grande abraço a todos e até mais.


Frederico
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Linux User #228171
Debian-BR User #434
Grupo LinuxBH <www.linuxbh.org>



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