Re: Iniciando novos usuários era: Esclarecimentos sobre Linux evitam decepções nos novatos
Em Fri, 22 Nov 2002 21:33:49 -0200, Gustavo Noronha Silva (Gustavo
Noronha Silva <kov@debian.org>) escreveu:
> Definitivamente, concordo com você... elas dão prioridade ao que acham
> importante... no entanto, eu diria que uma pessoa que faz um curso de
> computação o está fazendo porque terá necessidade de usar um
> computador no trabalho, ou para estudo, por exemplo, e será que essa
> pessoa vai saber o que fazer se tiver de usar a planilha do
> Wordperfect no trabalho? Sim, as vezes isso acontece... eu acho que
> aprender além da interface *é* uma prioridade.
Como eu disse, é uma prioridade dependendo da pessoa. Para alguém que
estuda computação, concordo com você, com certeza é uma prioridade. Para
algumas outras pessoas não é. Se você acha que deveria ser uma
prioridade para todas as pessoas, discordo de você. Mas talvez nem valha
a pena discutir isso mais. :)
> Mas nós aprendemos a lidar com leis ou com 1 lei apenas? Eu não sei
> você, mas eu lido com leis todo dia... sempre assisto jornais, leio
> revistas e sempre estou sabendo sobre crimes... se alguém me rouba
> ou me causa danos morais, físicos ou patrimoniais eu sei que ele
> está violando a lei e sei que tenho dispositivos que posso acionar
> para fazer justiça.
>
> Se eu somente soubesse "o básico" o mais certo é que iam me roubar
> e eu ficaria babando ou que qualquer advogado me passaria pra trás...
Claro que o básico a gente sabe, pois lida com isso todo dia. O básico
de muitas coisas acaba se tornando prioridade por uma necessidade que a
pessoa tem. Uma pessoa que usa o Microsoft Office no trabalho, terá que
se adequar a sua interface. Se a empresa resolve mudar tudo pra
StarOffice, a pessoa terá que se adequar à nova interface. Mas ambas as
interfaces, no fundo, são bem parecidas. As duas são bem intuitivas para
o usuário, para que ele não tenha problemas em se adequar.
Por que os teclados Qwerty possuem o layout que têm hoje? Porque
herdaram da máquina de escrever. Um amigo meu foi dar um curso de
introdução à informática e um jovem que nunca tinha mexido com
computação perguntou porque as letras no teclado não ficavam em ordem
alfabética. Realmente, não seria mais lógico? Mas o teclado teve que se
adaptar à necessidade do usuário da época, que estava acostumado com o
layout da máquina de escrever. Se não for assim, ninguém usa.
> Vamos continuar querendo nivelar por baixo?
Não. Nunca quis dizer isso. As pessoas não podem ser acomodadas nem
preguiçosas, mas devem fazer as coisas de acordo com sua capacidade e
seguindo prioridades.
> > Por que a Microsoft está perdendo o mercado de servidores mas
> > não o de desktops?
>
> Porque as empresas que vendem o hardware não oferecem soluções
> pré-instaladas e porque ainda não tem jogos o suficiente para
> GNU/Linux.
São duas boas razões, mas ainda acho que há outras, que já citei.
>
> > Conheço muita gente que consegue instalar o Windows mas não
> > consegue instalar o Debian. Por que? Porque não é o foco do
> > Debian ser um sistema com instalação gráfica bonita e intuitiva.
> > É o foco, por exemplo, do Mandrake e do Red Hat, que eu acho que
> > qualquer pessoas que instala o Windows instala estes dois.
>
> Não... porque estão acostumados com o ambiente Windows... se qualquer
> um que instala Windows instala Mandrake então seu argumento já foi por
> terra =)
Conseguem instalar o Mandrake, mas não o Debian. Porque o Mandrake é
feito pra eles, o Debian não. :)
> Ler a bula é tarefa de paciente sim... assim como é tarefa de usuário
> entender como usar o programa... mas é tarefa de paciente receitar
> o remédio pra si mesmo? Essa é a analogia correta.
Concordo. A diferença é que eu acho que "entender como usar o programa"
é equivalente a "entender como operar sua interface". Acho que você acha
que é necessário mais que isso.
> > um Scanner ou uma Impressora? Ele vai ter que chamar o administrador
> > do sistema pra instalar o periférico. Já no Windows, muita gente não
> > precisa disso...
>
> Porque o hardware é feito pra Windows, você sabe disso =)... mas nossa
> opinião não é tão idêntica no resto.
Eu nunca vi no Debian, por exemplo, um "Assistente para Instalação de
novo Hardware" (talvez as distros mais user-friendly tenham isso). Isso
é um diferencial enorme para o usuário final, pois mesmo que o driver
não exista, pelo menos ele pode receber instruções de como proceder
nesse caso. E tem que ser algo gráfico e fácil de usar, não pode ser
simplesmente um aviso de que foi detectado um hardware PCI no IRQ 7,
address 0430:0030 ou algo do tipo no init.
> hmmm... acho que você não entendeu... programação é uma *ferramenta*
> que é útil em todas as áreas... você aprende português, por exemplo,
> que pode não ter a ver diretamente com computação, mas é uma
> ferramenta.
Português tem a ver com tudo na nossa vida, pois se você não souber se
comunicar, já era... Mas tem certas ferramentas que não são tão
necessárias: dirigir um automóvel, andar de bicicleta ou de moto,
adestrar um cachorro, dançar, jogar futebol, cozinhar, nadar, programar,
entre muitas outras... Depende de quanto aquela habilidade é útil na
vida da pessoa. Não podemos generalizar.
> > O que detonou o Brasil na reserva de mercado foi que os
> > empresários se acomodaram por não ter concorrência, e vendiam
> > produtos que não eram satisfatórios ao cliente. Em outras
> > palavras, **eles achavam que o cliente deveria se adaptar aos
> > produtos deles, e não o contrário**.
>
> Exatamente... só que sua última frase ainda continua errada, na minha
> opinião... eles achavam que o produto deles não precisava se adaptar
> à realidade e às necessidades do mundo... eles não quiseram ajudar
> o desenvolvimento do país e só pensaram no seu lucro...
Acho que você falou a mesma coisa que eu. Afinal, as necessidades do
mundo são as necessidades dos clientes. Você só complementou: eles não
pensaram nas necessidades do cliente porque para isso iriam gastar mais
dinheiro e foram muito gananciosos e não tiveram visão do futuro.
> É o mesmo que acontece hoje... ninguém pensa em ser um profissional
> acima da média aprendendo a usar novas ferramentas, só pensam no
> aprendizado mínimo e especializado demais. Todo mundo reclama do
> presidente e pouca gente faz alguma coisa pra tornar o Brasil um
> país mais avançado.
Muita gente pensa sim. Só que talvez não precisem de saber muito além
do básico de informática para ser bem qualificado. Em resumo, o que eu
acho que é depende da necessidade e das prioridades, e que não podemos
generalizar.
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Vítor Estêvão Silva Souza
http://cliente.escelsanet.com.br/vitorsouza/
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