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Re: Iniciando novos usuários era: Esclarecimentos sobre Linux evitam decepções nos novatos



Em Fri, 22 Nov 2002 19:33:52 -0200, Gustavo Noronha Silva (Gustavo
Noronha Silva <kov@debian.org>) escreveu:

> Sério? Eu sempre procuro saber, mas sei que sou uma pessoa diferente
> das outras... leio a bula, pergunto... mas essa não é uma boa
> comparação.

	Realmente eu não escolhi uma boa analogia, mas eu não consegui pensar
em outra, então foi aquela mesmo. O que eu quis dizer é que não dá pra
saber muito sobre tudo, e as pessoas dão prioridade ao que elas acham
mais importante. Você não pode criticá-las por não darem prioridade a
aprenderem como as coisas funcionam além da interface de um programa.

	Uma comparação um pouco melhor é o Direito. Todos nós vivemos em
sociedade, então somos "usuários" das leis. Mas nós conhecemos bem as
leis? Quem já leu a Constituição? E os mil "códigos" que existem (de
defesa do consumidor, penal, etc)? Então elas são inúteis pra quem não é
advogado ou juiz? Acho que não! Mas não temos tempo ou vontade para
aprender, então confiamos aos advogados a incumbência de nos ajudar
nessa área.

	Assim, muita gente confia aos desenvolvedores de software a incumbência
de produzir um sistema que a pessoa possa usar sem ter que gastar muito
tempo pra aprender. Assim, se uma empresa faz isso e a outra não, mesmo
que o produto da outra seja de melhor qualidade, a facilidade de uso vai
pesar muito para o usuário final.

	Por que a Microsoft está perdendo o mercado de servidores mas não o de
desktops?


> Ele não vai conseguir instalar nem um nem outro... instalação não é
> tarefa de usuário e eu dou meu k6 pra quem conseguir instalar Windows
> 98 nele... =) Ele é um pouco chatinho, sabe? =)

	Conheço muita gente que consegue instalar o Windows mas não consegue
instalar o Debian. Por que? Porque não é o foco do Debian ser um sistema
com instalação gráfica bonita e intuitiva. É o foco, por exemplo, do
Mandrake e do Red Hat, que eu acho que qualquer pessoas que instala o
Windows instala estes dois.

	Você falou uma coisa muito interessante: "instalação não é tarefa de
usuário". Então será que "ler a bula" também não seria tarefa de usuário
de remédio? Usei aquela péssima analogia de novo, mas acho que dá pra
entender o questionamento...


> O negócio é: será que ele precisa? Ou será que isso é tarefa do
> vendedor? Primeiro: Debian não é para esse usuário, o Techlinux
> provavelmente vai detectar a placa pra ele... a grande vantagem que o
> Windows tem é que ele já vem instalado nos computadores... quantos
> usuários você conhece(que não são metidos a power users, veja bem)
> instalam suas próprias placas de som no Windows? Ou instalam seus
> próprios Windows...

	Acho que nós temos a mesma opinião no final das contas: depois que o
GNU/Linux tá configurado, com Kde ou Gnome, OpenOffice, Mozilla/Galeon,
Sylpheed, etc. fica muito mais fácil pro usuário. Dessa maneira um leigo
conseguiria usar o sistema, se acostumando com as diferenças
superficiais entre ele e o que era usado antes. Mas se o usuário comprar
um Scanner ou uma Impressora? Ele vai ter que chamar o administrador do
sistema pra instalar o periférico. Já no Windows, muita gente não
precisa disso...


> > 	Só acho que não podemos desviar a atenção desse aspecto, que é
> > 	muito importante: o sistema deve se adequar ao usuário, e não o
> > 	contrário.
> 
> Isso nem sempre é verdade... e por vários motivos, principalmente
> segurança. É necessária uma reeducação sim, e não é só de usuários...

	Não estou dizendo que todos os outros aspectos devem ser relevados em
detrimento de uma interface mais fácil de usar. Uma interface intuitiva
não implica falhas de segurança.

 
> As pessoas ainda tem de aprender, por exemplo, que programação é uma
> ferramenta que serve a áreas que vão muito além de engenharia ou
> computação. Você acha bobagem um médico, biólogo ou sociólogo aprender
> a programar?

	Não acho bobagem não. Se ele tem tempo disponível para aprender, ótimo!
Isso provavelmente vai ajudá-lo em um bocado de situações. No entanto, é
a mesma questão das prioridades que eu disse no começo dessa mensagem:
talvez o médico, biólogo ou sociólogo poderia estar se dedicando ao
aprofundamento dos seus conhecimentos em sua área específica e deixar a
programação para os técnicos especializados, que farão programas muito
bons e ao mesmo tempo fáceis de usar, facilitando sua vida.

	Eu estudo Ciência da Computação. Você acha bobagem eu aprender
biologia? E química? E história? E direito? São ciências que nada tem a
ver com o meu foco. Mas e administração? E marketing? E design? Talvez
tenham mais a ver com o que eu faço e talvez seja interessante aprender,
ainda mais num mercado competitivo de hoje em dia. Mas se eu decidir ser
um pesquisador? Eu preciso aprender essas coisas?

	Tudo vai da necessidade de cada um, e acho que nosso trabalho como
desenvolvedores de aplicações é tirar do usuário a necessidade de
aprender sobre informática mais do que ele precisa ou quer. Não estou
proibindo-o de aprender, ao contrário, incentivo bastante as pessoas a
isso. Mas se ele não quiser (pelo motivo que for), está no direito dele,
e ainda assim gostaria que ele utilizasse meu software.

	Eu acho que o que o autor do artigo vacilou é ter generalizado aquele
monte de coisas a todos os sitemas GNU/Linux. Os sistemas que tem como
alvo o usuário leigo (IMHO: Red Hat, Mandrake, TechLinux, Conectiva,
...) cumprem bem o seu papel. O Debian não tem esse foco.


> Eu acho isso uma necessidade... a ferramenta "computador" está
> extremamente sub-utilizada, e as causas de isso estar acontecendo aqui
> no Brasil[1] são as mesmas que detonaram com o país na época da
> reserva de mercado: preguiça, acomodação e nivelamento 'por baixo'.

	O que detonou o Brasil na reserva de mercado foi que os empresários se
acomodaram por não ter concorrência, e vendiam produtos que não eram
satisfatórios ao cliente. Em outras palavras, **eles achavam que o
cliente deveria se adaptar aos produtos deles, e não o contrário**.
Resultado: quando abriu o mercado, os produtos estrangeiros, de
qualidade muito superior, dominaram o mercado.

____________________________________________
Vítor Estêvão Silva Souza
http://cliente.escelsanet.com.br/vitorsouza/





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