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Re: Qual o foco da Debian? [longo]



On Tue, Feb 11, 2003 at 10:04:24AM -0300, Ricardo Portella wrote:
> Não faz sentido esta resposta.
> 
> Se não fosse para usar, para que a página? a divulgação? a lista?
> PARA QUE CRIAR UMA COISA QUE NÃO É PARA SE USAR?????
> Deculpem mas foge ao meu entendimento...
> Raciocinar não é sinônimo de sofrer....
> Antigamente sera-se obrigado a decorar a tabuada. Hoje em dia as crianças
> podem levar calculadora eletrônica para a aula.
> Elas raciocinam menos por causa disso?
> Facilitar s´vai aumentar o número de pessoas usando, em conseqüência,
> teremos mais pessoas a colaborar, dar idéias, apontar erros e sugerir
> melhorias...
> Ou vc acha que sabe tudo?
> 
> Ricardo Portella.
>

Não *acho* que sei tudo, eu *sei* que sei tudo! Sou Deus, não está vendo? :)

E o que as pessoas desta lista estão fazendo? Estão colaborando, dando
idéias, apontando erros e sugerindo melhorias. Claro está que se for
mais fácil é melhor, mas "facilidade" é um conceito muito relativo. Não
aprendi a mexer no DOS. Logo, DOS é difícil para mim. Não tenho idéia de
como é a administração do sistema em Widows NT/2000/XP, logo Windows
NT/2000/XP é difícil para mim. Entretanto, se eu for atrás, se eu fuçar,
procurar, ler um pouco sobre aquilo, o Windows se tornará fácil para
mim. E por favor não venham dizer que o Windows é fácil por causa da
interface gráfica e tal. O Gnome e o KDE também são interfaces gráficas,
são fáceis de usar. Nem por isso, sabendo usar KDE e GNOME serei capaz
de, por exemplo, instalar um firewall que funcione (ainda que existam
ferramentas gráficas, como o fw_builder) ou configurar o squid. São
atividades que exigem conhecimento técnico. Isto está muito além da
interface. Senhores, quantas vezes vocês não tiveram que acudir algum
amigo/namorada/mãe/tio/cunhado com problemas na instalação do windows?
Por quê? O windows não é fácil? SIM, a interface é amigável, os
controles são bonitinhos etc. Mas aquilo que está por trás da interface,
o conceito, já não é tão óbvio assim, seja em Windows, seja no Mandrake,
seja no Debian. Uma analogia: já que você pode usar calculadora hoje em
dia, por que raios te ensinam no colégio a tirar raiz quadrada e
logaritmo "no braço"? É justamente para você entender os conceitos, para
pelo menos ter uma idéia do que a calculadora faz. Da mesma forma, uma
interface "fácil" funciona dessa maneira: é apenas uma interface, uma
conveniência, uma comodidade para aquilo que ela está fazendo. Ou vocês
se meteriam a instalar um sistema operacional sem ter pelo menos uma
idéia geral de como a coisa funciona?

Eu acho que "facilidade de uso" é por aí. Nada impede que alguém (até
mesmo você) crie uma interface gráfica bonita para a instalação do
Debian, objetivando ao máximo a facilidade de uso. Entretanto, como é
que você vai explicar ao usuário leigo o que é uma partição de disco ou
por que ele precisa particionar o disco ou se ele quer particionar o
disco? Você pode, sim, fazer isso: se não estou enganado, o instalador
do Mandrake realoca espaço do Windows e particiona automagicamente o HD.
Para o usuário absolutamente leigo, isso é uma beleza. Até a hora que
ele percebe que o windows reclama de falta de memória quando ele vai
visitar aquela página de internet mais incrementada. Até a hora que ele
percebe que em seu disco não cabem mais os mp3 ou as fotos de sacanagem
de que ele tanto gosta. Ou então quando ele percebe que o espaço alocado
para o Linux foi tão pequeno que não cabe o OpenOffice, o Java e o Kylix
juntos. E então? O que ele vai fazer? Às vezes, quando pensamos em
usabilidade, entram em choque os interesses de dois tipos básicos de
usuários: aquele que nunca viu uma máquina à sua frente e o bruxo do
assembly. Um quer fazer tudo com o mínimo esforço, contanto que "It Just
Works®", sem se importar se vai gastar mais ou menos espaço em disco, ou
que sua placa de som não seja configurada como full-duplex, ou que seu
monitor não esteja na resolução máxima. Já o guru quererá ter o controle
de cada bit que entra ou sai da sua máquina. Cada IRQ de cada
dispositivo instalado ele sabe de cor, e quer tirar o máximo de proveito
de tudo isso, ainda que seja necessário dispensar certas comodidades. E
ele não está nem aí para as tais facilidades, porque para ele elas são
antes dificuldades, obstáculos que impedem a realização dos seus
objetivos de forma direta.

E então, quem vence? No Debian, acredito que são os usuários avançados,
porque são eles que fazem o sistema, são eles que o usam. Nem por isso,
repito, os usuários iniciantes estão impedidos de usá-lo, porque uma vez
instalado, o Debian é como qualquer outro Linux, com KDE, GNOME ou mesmo
a boa e velha CLI. Bom, é isso. Se você quer comodidade de uso, com
mouse e janelas, escreva um patch. Se não tiver as habilidades para
isso, pelo menos contate os responsáveis (de forma educada, por favor!)
pelo software em questão. Eles pelo menos se esforçarão para ouvi-lo. Se
não tiver resultado, mude! Você é livre para isso. Vá para o Conectiva,
RedHat, Mandrake, o escambau! É isso que software livre quer dizer. Você
não está atrelado a uma distro (mesmo porque você provavelmente não
pagou por ela) ou a um pacote de software. Entretanto, se você fizer um
esforço, lendo os manuais, procurando na Internet, mandando mensagens
por e-mail para listas como esta, provavelmente vai conseguir usar o
software. Você não é animal, você não é máquina. Você é humano. Tantos
outros humanos usam o programa/biblioteca/distro/pacote, por que você
não pode aprender também? Basta querer.

-- 
José de Paula Rodrigues Neto Assis		Linux User 175920
Brasília - DF - Brasil				counter.li.org



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