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Re: História do DOS, OS/2 e Mach



	Antes de mais nada, obrigado pelas correções e encorajamentos!
Incorporei a maioria, e seguem-se comentários sobre os comentários.

Maçan:
> 	  E o fato da briga da Digital Research com a MS, acusando-a de
>  fazer seu windows detectar a presen=E7a do drdos abaixo de si e n=E3o
> executar com a mesma (ah=E9m) performance sobre ele. Se n=E3o me engando
> a Caldera ganhou essa briga na Justi=E7a n=E3o faz tanto tempo assim.

	Não soube como terminou isso, mas não deve ter sido com a
compensação de bilhões que a Caldera queria...


> > [CONSERTE-ME: Conseguir uma boa defini??o de "sistemas abertos".]
> 
> J=E1 olhou a OSD? www.opensource.org se quiser pode ver a DFSG da qual
> a OSD =E9 praticamente uma c=F3pia :)

	Mas de qualquer maneira é uma definição de código aberto, não
sistemas abertos.

	Para quem não se lembra mais, sistemas abertos são sistemas com
interfaces padronizadas e interoperáveis, obedecendo a padrões como os
POSIX, as definições do IETF, da ISO e outros organismos afins.

	Por exemplo, houve no governo Collor uma instrução para que o
governo federal comprasse somente sistemas abertos.  Não sei se essa
instrução ainda tem efeito legal, mas com certeza virou letra morta.


Émerson:
> PS: Se alguém tiver correções a fazer, que modifique o texto e coloque
nessa mesma lista.

	Mais uma vez, não sou o Shay, só estou usando o endereço de correio
eletrônico dele.


> Quanto as declaracões do Linus, ele realmente disse que "O Mach é um monte
de lixo", segundo a
> sua biografia de título "The fun of the sun" ( Corrijam-me se estiver
errado ) "o microkernel ao qual o Mac
> OS/X foi desenvolvido, o Mach, possui todos os erros possíveis de design".

	Na verdade é uma autobiografia... e que ele tenha dito que "o
micronúcleo sobre o qual o Mac OS X foi desenvolvido (...) possui todos os
erros de projeto possíveis" não dá o direito a um jornalista de publicar que
ele disse outra frase mais ofensiva, que ele seja "um monte de lixo".



> Eu particularmente acho que o Hurd não sofre tanto assim, e que a
comunidade não deve se irritar com o

	Sofre sim, tanto que ele é mais antigo que o Linux e ainda não está
nem perto da versão 1.0; e seus desenvolvedores sabem disso, tanto que na
primeira oportunidade que tiverem vão trocar o Mach por algo mais.  Aliás
essa é uma das grandes vantagens do Hurd, ele pode funcionar em qualquer bom
micronúcleo se sofrer alguma adaptação.

	Agora se irritar ninguém deve.  É uma opinião técnica dele, e ele
tem direito a isso assim como temos o direito de concordar ou discordar.



> Linus. Assim como o Hurd tem bases no Mach, o Linux tem bases no Minix.

	Não é bem a mesma coisa.  O Hurd usa diretamente o Mach, embora haja
a possibilidade de trocá-lo por algo mais, enquanto o Linus usou sua
experiência com o Minux para criar o Linux mas não usou diretamente o Minix,
nem como componente nem como código fonte.



> Segundo o que eu soube ele criticou o Mac OS/X devido ao Mach, mas não
citou o Hurd em nada.

	Sim, mas sabe-se que ele não concorda nem com a idéia de que os
micronúcleos *possam* trazer algum benefício.



Lalo:
> Não não. O DOS não tem nada a ver com o CP/M. A Microsoft

	Tem sim, é um /clone/ que se chamava QDOS, Quick and Dirty OS.


> comprou o DOS de um programador independente que se não me
> engano trabalhava na Radio Shack na época (como vendedor, não
> como programador). Eles só vieram a contratar o cara quase dez
> anos depois.

	Que cara?  A DR do Gary Kildall, foi sim contactada pela IBM; quanto
ao criador do QDOS, foi uma empresa chamada Seattle Computer Products.  A MS
comprou pouco tempo mais tarde os direitos exclusivos por uma mixaria, tipo
cem mil dólares estadunidenses - mesmo que fosse um milhão seria uma
pechincha em vista do resultado, mas não do produto; porque o valor não
estava no produto em si, mas no que a Microsoft construiu com ele, a saber
um monopólio.



Wagner:
> O CP/M era um padrão, uma porcaria de sistema, mas funcionava

	Não um padrão, mas um produto extremamente popular que dominava o
mercado de sistemas operacionais para Intel 8080 e Zylog 80.



> preparada pela MS: na época da indefinição entre a MS e a IBM em
> relação ao OS/2 e LanManager, a MS estimulou a Lotus a fazer o porte
> do Lotus para o LanManager, esquecer o Windows (v1 e v2) que seriam

	Acho que você quis dizer Presentation Manager, já que o LAN Manager
era (e é) o componente de rede tanto do OS/2 quanto do NT, e que não tem
nada a ver com o Lotus 1-2-3.



	Aqui vai uma nova versão do texto:

* Uma História dos Sistemas Microsoft e sua Relacão com os Sistemas
Padronizados e Abertos

** Por que se preocupar com sistemas padronizados ou proprietários?

	Uma tendência perturbadora para os amigos dos sistemas livres, e
inclusive para quem ainda acredita em sistemas abertos[1], é como se tem
usado os termos "padrão" e "aberto" para descrever sistemas fechados e
proprietários como o Windows em suas diversas encarnações e a arquitetura
Intel em contraste com sistemas realmente padronizados como os diversos
Unices
e a arquitetura SPARC, por exemplo.

	Esse erro tem origens históricas relativamente antigas no meio da
informática.  Explicar cada detalhe dessa história seria um artigo mais
longo, em várias partes; aqui vamos somente delinear a história do
Windows e como a Microsoft deliberadamente se afastou do ideal dos
sistemas abertos, assim se colocando na posição de precisar
espalhar desinformação sobre os sistemas realmente padronizados, além
de semear confusão sobre o próprio conceito de sistemas padronizados
ou abertos.  Vamos passar direto sobre a história de como o DOS foi
parar na Microsoft e na IBM, o que já dá uma história em si.


** O MS-DOS como caminho de migração para sistemas abertos.

	O MS-DOS da Microsoft é modo real.  Isso significa que é capaz de
executar apenas um programa de cada vez[1a].  O projeto original previa
também um DOS multiusuário, que mixou logo no começo.  Isso consta da
história do DOS conforme a Introdução à MS-DOS 3.0 Encyclopedia[2].

	Então a Microsoft comprou com a AT&T uma licença do Unix, e
lançou uma versão para Intel 80286, que era o Xenix.  A idéia era
migrar todos os usuários de DOS para Xenix.  Um dos piores problemas
era o uso de "/" pra designar opções para o COMMAND.COM, o
interpretador padrão de linhas de comando do DOS, também conhecido
como "Aviso de Comando MS-DOS" ou simplesmente "linha de comando".
Por isso a versão 2.11 do DOS tinha um parâmetro do CONFIG.SYS chamado
SWITCHAR que aceitava os valores "/" ou "-".  O "-" era o padrão na
2.11.  O plano era que na 3.0 o padrão seria "/", e aí a migração para
Xenix seria facilitada, porque não haveria problemas mais com os nomes
de caminho do Unix.  Isso está documentado no manual "ITT XTRA MS-DOS
2.11 Reference", sendo que ITT XTRA era uma das versões OEM do DOS.
Nunca consegui uma cópia dele ou do manual equivalente da própria
Microsoft, então essa informação é de segunda mão.


** O caminho do monopólio I: com a IBM.

	Quando a Microsoft percebeu que junto com a IBM ela tinha poder
para dominar o mercado sem precisar da compatibilidade com POSIX,
vendeu o Xenix à SCO e partiu para o DOS modo protegido, num projeto
conjunto com a IBM.  O plano era lançá-lo como DOS 3.0, o que se provou
impossível.  Assim, o DOS modo real com acionadores de rede foi lançado como
DOS 3.0, e o DOS protegido ia ganhar o nome de DOS 4 - por isso houve tanto
tempo entre as versões 3 e 4 do DOS.  Mas o projeto atrasou e o
DR-DOS[2a], um concorrente mais capaz do MS-DOS,
começou a ganhar mercado, aí lançaram uma nova versão do DOS modo real como
4.0; chegaram a pensar em ainda lançar o DOS protegido como DOS 5, mas
decidiram simplesmente mudar o nome para OS/2, combinando com as novas
máquinas PS/2 da IBM.

	Ao mesmo tempo criaram o Windows como um ambiente para rodar sobre
DOS.  A idéia era vender eventualmente o DOS protegido com o Windows.  Mas a
IBM achou que o Windows era ruim demais e não tinha conserto (no que ela
tinha toda a razão), e forçou a Microsoft a trocar o Windows protegido pelo
Presentation Manager, que é a interface gráfica do OS/2 até hoje.

	Até esse momento a Microsoft ia cuidar das versões ímpares do OS/2,
e a IBM das pares - algo como o acerto entre a Intel e a HP sobre o IA-64
(Merced/Itanium, McKinley).  O 1.0 foi lançado, mas a Microsoft não fez a
tarefa de casa dos drivers.  Além disso a compatibilidade com aplicações
modo real era muito ruim, porque a IBM ia demorar a ter uma máquina 386 e
queria que o OS/2 rodasse no 286, que não tinha modo virtual.  O resultado é
que a "caixa de compatibilidade DOS" do OS/2 ficou conhecida como "caixa de
tortura DOS".  Finalmente, o OS/2 presumia uma configuração parruda de uma
máquina de boa qualidade.  Para quem tinha IBM, Compaq, Xerox ou coisa assim
tudo bem, mas naquela época os /clones/ de IBM-PC eram ainda piores que
hoje, e aí o OS/2 dava mensagens de erro de montão.  Para complicar, essas
mensagens de erro eram no formato padrão da IBM, que praticamente não tem
informação útil nenhuma, somente um código que está muito bem explicado numa
documentação enorme, cara e que ninguém tinha.  Além disso o OS/2 custava
US$ 500 ou coisa assim


** O caminho do monopólio II: sem a IBM.

	O resultado disso tudo é que a adoção do OS/2 não aconteceu nas
versões 1.X.  Antes de chegar à versão 2.0, a Microsoft percebeu que não
precisava mais da IBM porque o MS-DOS já tinha um domínio muito grande do
mercado.  Então rompeu o acordo com a IBM, que previa também que o Windows
ia ter uma versão modo protegido mas não modo virtual, enquanto o OS/2 2.0
ia rodar no 386 com modo virtual, facilitando a migração de aplicações DOS.
Aí ela lançou o Windows 3.1, que rodava aplicações DOS em modo virtual,
portanto melhor que o OS/2 1.3.  A IBM ainda lançou o OS/2 2.0, inclusive
com uma interface melhorada, a WorkPlace Shell (WPS), mas rodando somente em
386 com 8MB de memória e uns 70 MB de disco.  Na época isso era considerado
excessivo, a WPS era muito diferente do que as pessoas esperavam, a
configuração inicial era muito pobre e feia, e ainda não havia muitos
acionadores de dispositivo, especialmente impressoras.  Em contraposição o
Windows modo virtual exigia apenas 4MB, o modo protegido 2MB e o modo real
(que ninguém usava) 1MB.  Tinha muitos acionadores, uma interface familiar
(semelhante à interface do Windows 2 e OS/2 1), e a Microsoft logo cancelou
o Word e Excel para o OS/2, se dedicando às versões para Windows 3.1.

	Por essa época a Microsoft já desenvolvia o OS/2 3.0, apelidado de
OS/2 NT, que rodava em cima de Mach [3] ou coisa
parecida.  O que ela fez foi arrancar fora o Presentation Manager e colocar
o Windows por cima, e lançar com Windows NT.  Dado o fracasso do OS/2 e do
PowerPC no mercado de massa, e à preocupação com outros assuntos, a IBM
acabou desistindo do OS/2 NT e a versão 3.0 (Warp) acabou sendo simplesmente
uma otimização da 2.3 - até algumas telas diziam 2.3 em vez de 3.0 Warp.


** Por que nunca ouvimos falar disso antes?

	Um dado interessante é que com o fim da mania de sistemas abertos e
a consolidação do domínio da Microsoft ela deixou de falar que o NT era
baseado em micronúcleo ou orientado a objeto, cancelou as versões RISC e as
personalidades OS/2 e POSIX, e só lançou a versão multiusuário porque a
Citrix
fez sucesso.




[1]	Aqui considero que sistemas livres são um subconjunto dos sistemas
abertos.  Para o conceito de sistemas livres, ver
http://www.gnu.org./philosophy/categories.html e para o conceito de
sistemas padronizados, ver
http://foldoc.doc.ic.ac.uk/foldoc/foldoc.cgi?standard.
[CONSERTE-ME: Conseguir uma boa definição de "sistemas abertos".]


[1a]	Isso porque cada programa enxerga os endereços "reais", ou seja
físicos, da memória.  Assim, o DOS não é capaz de limitar o quanto
cada programa usa de memória, nem evitar que um programa tente usar a
memória já em uso por outro programa.


[2]	The MS-DOS Encyclopaedia, Ray Duncan, Editor
1.988, Microsoft Press, Redmond, WA, EUA.
Com prefácio de William Gates III.
[CONSERTE-ME: obter referência bibliográfica completa.]


[2a]	A Digital Research, responsável pelo MS-DOS, foi comprada pela
Novell e transformada na Caldera.  Curiosamente, a mesma SCO que
comprou o Xenix da Microsoft vendeu sua versão do Unix para a Caldera,
cuja principal atividade é a manutenção de uma versão do GNU/Linux.

	Além disso, a concorrência do DR-DOS foi um dos motivos para a
Microsoft unir o Windows 4.0 e o MS-DOS 7 no produto Windows 95, assim
eliminando o mercado independente de sistemas operacionais compatíveis
com DOS.


[3]	[CONSERTE-ME: Localizar os artigos relevantes da Byte.]


(C) Leandro Guimarães Faria Corsetti Dutra, abril de 2.001.
É permitida a cópia literal deste documento em sua integridade.
Uma versão será proximamente publicada sob a Licença Pública Geral de
Documentação GNU.
Feito com a colaboração dos membros da lista de discussões de usuários
lusófonos de Debian, debian-user-portuguese em
http://www.debian.org/MailingLists/.


	Sugestão, a próxima vou tentar colocar na minha página em vez de
mandar para a lista, que tal?




-- 
  _
 / \  	 Leandro Guimarães Faria Corcete Dutra        +55 (11) 3040 8913
 \ /  	 Amdocs Brasil Ltda at Tele Danmark                +45 3387 5214
  X   http://terravista.pt./Enseada/1989/     mailto:leandrod@amdocs.com
 / \     Campanha fita ASCII                        mailto:moreno@tdk.dk



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