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Re: Brasil na vanguarda



É isso aí. O Brasil vem se destacando em muitas coisas inclusive no uso de programas abertos e/ou gratuitos. Temos que, cada dia mais, sermos um pouco mais patriotas, apesar da barbaridades que os políticos fazem, e valorizarmos o que é nosso.
Mesmo sendo ainda relativamente poucos a usar o linux, cuja melhor distribuição é o Debian, podemos fazer bastante barulho.
Quem sabe um dia o mundo saiba que nós temos outras coisas além de pelé, Amazônia e carnaval.
 
Lourenci wrote:
Deu no Estadão: Deu no Estadão: O Brasil está na vanguarda da revolução digital?
Editoria: Governos
22/Nov/2004 - 15:40
Parece pouco provável que o Brasil tivesse qualquer papel de destaque na revolução digital que assola o mundo, menos provável ainda que fosse liderá-la, mas foi isso mesmo que eu li na edição deste mês da revista Wired.

Para quem não a conhece, Wired pode ser descrita como a bíblia dos tecnófilos. Desconfio que ela própria gosta de se ver como a revista do futuro.

É publicada, hoje, pela Condé Nast, a mesma empresa americana responsável por títulos consagrados como a New Yorker, Vanity Fair e Glamour. É lida, imagino, por nerds e geeks, ou seja, por aqueles intelectuais que gostam ou gostavam de ficção científica e hoje mandam no mundo ou pelo menos têm uma "estação de trabalho" (mesa) numa das filiais da Microsoft ou da Sun Systems. Embora traga anúncios maravilhosos das maiores empresas de tecnologia do planeta, IBM, Hitachi, AOL, Nokia e Microsoft, entre muitas outras, adota uma linha claramente libertária em relação à tecnologia. Abaixo do próprio logotipo da revista se lê a frase "compartilhe a riqueza" (share the wealth).

Entre as reportagens, notas e frases da edição de novembro da Wired, há coisas do tipo "Como o videogame Pong inventou a internet", "Não me odeie por ser digital", "A modificação genética da cocaína" e uma grande seção especial dedicada ao futuro da música - e da própria cultura - no mundo digital.

Nela se lê que o futuro será definido pelo sampling, ou seja, pela recombinação criativa de obras que já existem. Até aí nada de muito novo, é o que fazem os DJs hoje em dia e o que faziam modernistas como Picasso ou John Coltrane, entre outros.

A novidade está no CD que vem grátis com a revista (numa embalagem fantástica). Ele traz 16 músicas de artistas conhecidos, 13 dos quais podem ser utilizadas para que se façam novas versões musicais, samples-comerciais mesmo. Ou seja, você pode pegar esse CD da Wired, roubar dele o que quiser e lançar suas próprias músicas no mercado, desde que sejam "altamente transformacionais". Quem estiver interessado deve procurar os detalhes legais no site creativecommons.org/wired (há uma série de restrições). Entre os artistas que cederam obras para o projeto estão Le Tigre, Peter Westerberg, David Byrne e o nosso ministro da Cultura, Gilberto Gil, que entra com a (ótima) Olodum.

A maior surpresa, no entanto, levei ao ler as reportagens que acompanham o CD. Uma delas, de Julian Dibbell, é dedicada exclusivamente ao Brasil. Segundo o jornalista, nosso país é um dos líderes do movimento para liberar obras de arte e software das restrições de direitos autorais, tornando a cultura digital mais acessível. A política de tecnologia do governo privilegia software grátis através do Linux, o Brasil tem o primeiro sistema de caixas eletrônicas de banco com código-fonte aberto (open source) e está na vanguarda dos movimentos que visam a liberalização dos conceitos de propriedade intelectual no mundo.

Por que o Brasil?, pergunta Dibbell a certa altura da sua reportagem. A resposta passa, acredite, pelo bispo Sardinha, pelo conceito de antropofagia do modernista Oswald de Andrade, pelo tropicalismo do Caetano e Gil e pela heróica batalha do então ministro da Saúde José Serra contra os fabricantes de remédios anti-HIV na década de 1990. A ordem do dia no planeta é tropicalizar, segundo o jornalista especializado em economias virtuais. E explica, em inglês: "To tropicalize. Verb form of the noun." Ou seja: Tropicalizar. Forma verbal do substantivo.

No centro dessa discussão toda está a questão de direitos autorais (copyright). Ou seja, como permitir que as pessoas compartilhem livremente a cultura digital sem onerar os artistas e engenheiros que escreveram as obras originais? A esperança, escreve Dibbell, é que seja possível criar um sistema alternativo de compensação - semelhante ao que existe hoje no rádio -, que quebre o impasse atual entre a indústria e os fãs de uma vez por todas e possibilite que os artistas sejam pagos e que os arquivos digitais possam ser trocados livremente. "Vai ser uma batalha", conclui o jornalista na Wired, "mas até agora só o Brasil demonstrou qualquer coisa parecida com a vontade política necessária para tamanha façanha."

E lá vai o nosso país, mais uma vez, de volta para o futuro.

O Estado de S. Paulo - Editorias - //22/11/2004

MATTHEW SHIRTS

http://www.softwarelivre.org/news/3335


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