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[Off-topic]Re: partidarização do software livre



Em Qua 10 Abr 2002 19:15, Alex Fernandes Rosa escreveu:
> Marcio,
>
> Vale lembrar que o MST apesar de ter apoio de algumas alas do PT e
> diversos outros partidos de esquerda, nao possui uma ideologia
> dominante entre seus membros, apesar do socialismo ser o ideal

	Muitas pessoas ficam muito preocupadas com as ideias da direção do MST.
Provavelmente eles devem possuir coisas estranhas na cabeça. Talvez eles nem estejam
efetivamente *sonhando* com a reforma agrária mas com uma revolução, ou
então naquilo que eles imaginam luta de classes. Ora, a revolucão Russa não deu terra ao Camponês.
Deu com o decreto de Lenin mas tirou a terra novamente  na década de 20, assim que uma 
burocracia já se sentia segura com o aparato de Estado na mão.  O mesmo aconteceu na China:
o Camponês chines deixou de ser escravo da burocracia do Partido depois das reformas
do Deng na década de 80, que devolveu o usufruto da terra ao Camponês.
Em Cuba o Camponês é tratado como débil mental: foi forçado com incentivo
economico a se integrar a cooperativas dirigidas pela burocracia e os que se negaram não
foram mortos como na União Soviética, mas foram tratados com reserva e preconceito
e sua renda super controlada. 
Provavelmente a visão de Camponês que a direção atual do MST tenha seja a mesma 
que existia na antiga China e na URSS e existe ainda em Cuba: um Camponês enquadrado em
uma cooperativa dirigida por quadros profissionais que nunca pegarão na enxada, mas ficarão
zanzando pelos gabinetes futricando disputas burocráticas.  


A Reforma Agrária é uma prataforma da Revolução Francesa, da revolução dita Burguesa. 
Os leninistas da terceira internacional apenas utilizaram a bandeira da reforma agrária
como um meio de alcançar o poder do Estado. Até as reformas de Deng Xiao Ping e as
reformas no Vietnã nos últimos anos não existia nenhum país administrado por Partido Comunista onde
o Camponês fosse gente com autonomia.  Algumas das reformas
agrárias que obtiveram sucesso foram na verdade forçadas pela intervenção dos
americanos, no Japão, naCoréia e em Taiwan; reformas agrárias que tinham o objetivo
de dar maior justiça social e retirar as bases de crescimento do *perigo*  comunista.   
Enfim, Reforma Agrária de fato nunca foi coisa de comunista. 


Mas qualquer que sejam as fantasias que passem nas cabeças da direção do MST,
os sem terra merecem o  total  apoio das pessoas de bem.  Se não fossem tais fantasias alimentando
a ação desses candidatos a burocratas, milhares de brasileiros sem propriedade
nenhuma estariam sem voz, vivendo a perspectiva de serem escravos assalariados nas cidades e nunca
sentiriam o bom que é a liberdade burguesa que nasce da propriedade, de ser dono
do próprio nariz  que a propriedade da terra possibilita.  
Se esses brasileiros estivessem vivendo bem, eles não estariam
seguindo líderes candidatos a serem  seus  prováveis futuros algozes; se submetendo a morar 
debaixo de lonas pretas, no calor e na chuva,
vivendo uma vida incerta.  O importante não é a direção do MST. O importante não é o MST.
O importante  é ajudar que pessoas se libertem da servidão e incerteza 
mesmo que agora isto signifique ajudar algumas atividades organizadas pelo MST. 


Os maiores obstáculos para a reforma agrária no Brasil não estão nos fazendeiros, nem no PFL 
e nem nos partidos chamados de direita.  O maior obstáculo está nos ex(?)-marxistas que
desde o primeiro governo FHC dominam o núcleo duro do governo. FHC não esqueceu o que escreveu.
Desde a década de sessenta uma boa parte de marxistas brasileiros consideram que
a Reforma Agrária no Brasil é uma questão superada, que o desenvolvimento do
capitalismo no Brasil tornou obsoleta a Reforma Agrária.  Eles consideravam que a renda da pequena
propriedade rural iria ser tão pequena que o sujeito prefereria  ir trabalhar de porteiro
em um prédio do que enfrentar os rigores da labuta agrícola.  Eles consideravam  que o capitalismo
iria avançar no campo, acabando com a relação servil, trazendo o trabalhador rural proletário com
carteira assinada; escravos assalariados do Agrobusiness, sindicalizados e eleitores certos do PT.
 A empresa  de agrobusiness *capitalista*, 
moderna, com alto produtividade não daria espaço economico para a sobrevivência da propriedade rural familiar. 
Atualmente, tanto os ex(?)-marxistas do governo FHC como alguns setores da CUT e do próprio PT acreditam
que reforma agrária no Brasil se aplica apenas em algumas regiões, para resolver
alguns problemas localizados, e para ajudar a diminuir a criminalidade urbana -- mesmo
que os assentados fossem cronicamente subsidiados pelo Estado valeria a pena pois
se gastaria mais casos eles ficassem marginalizados na Cidade.   
Aos olhos dos ex(?)-marxistas do governo, do PT e da CUT,
a direção atual do MST seria dominada por  leninistas saudosistas e arcaicos,
que não sabem nem ler Marx e nem ler a realidade, líderes condenados a uma derrota 
ditada pela realidade do Brasil Moderno.  Portanto, o governo FHC fez pouco
pela reforma agrária de fato; nem política agrícola possui, assim fica difícil de saber se a reforma agrária 
não é viável porque obsoleta ou se a cabeça de Brasília a boicota.  

O problema na minha opinião é outro: alguns não proprietários querem propriedade
da terra e eles, e todos os demais,  merecem pois a propriedade da terra no Brasil nasceu de uma apropriação
feita de maneira muito mais brutal do que a tal da violência das invasões do MST. 
E não tem sentido deixar pessoas que querem trabalhar, mesmo que seja em um negócio
que alguns consideram como obsoleto, parados acampados em beira de estradas. 
É uma questão de opção, de liberdade. É aqui que na minha opinião a reforma agrária
tem alguns pontos em comum com o SL. 

> O software livre tem um fim semelhante ao marxismo, ambos querem
> liberdade para todos, um liberdade para o codigo-fonte, e outro
> liberdade social, agora se na pratica nao foi assim que aconteceu ou
> acontece, eh algo a se discutir.
>
> Acredito que o software livre se relaciona muito mais com o
> socialismo, do que com o capitalismo. Estamos vivendo em uma
> sociedade, e essa queira ou nao, possui seu sistema economico, que
> atualmente dita os rumos da vida das maioria das pessoas.
>

	O software livre é aquele que segue  licenças tipo GPL ou  BSD, 
ou melhor, a Debian tem uma cartilha que define bem a coisa. 

O fim do marxismo é o *socialismo* que vem via uma etapa com
ditadura do proletáriado  necessária para acabar com o poder dos antigos
proprietarios dos bens de produção. O seu fim último é a eliminaçãos das
classes sociais  o que na visão de Marx levaria ao fim do Estado -- comunismo. 

	O software livre é outra coisa.  Fazer  livre um software é uma opção
que um programador toma independente de existir ou não classes sociais e Estado. 
Porém só teve sentido o SL depois do aparecimento do computador. E o computador
apareceu na sociedade moderna, burguesa, sociedades com maior liberdade individual
do que a sociedade feudal. 

É muito difícil dizer se o SL tem mais a ver com Socialismo ou Capitalismo.  O Estado
proibir uma licença tipo GPL ou BSD seria uma ameça a liberdade individual que é um 
dos pilares do capitalismo. A licença BSD foi criada nos Estados Unidos na
crença de que a produção acadêmica financiada com dinheiro público   
poderia ser apropropriada por qualquer cidadadão desejoso de ganhar dinheiro,
seguindo a cartilha de A. Smith e assim fazer crescer a economia. 
 A licença GPL foi criada para possibilitar
(1) o comprador/usuário de um programa de computador não ter sua
liberdade  limitada pela ausência do código fonte, (2) o comprador/usuário
 *tomar posse*  daquilo que comprou e modificá-lo para satisfazer
suas necessidade (3) forçar que em tal apropriação o comprador/usuário não parasite o trabalho 
alheio e seja obrigado a deixar também GPL as modificações. 
A licença GPL não foi criada na URSS, China, Cuba, etc. 
Não porque nestes países não existissem computadores, mas
porque nesses paises não existiam indivíduos.

 A licença GPL segue, a rigor, os ideais americanos: a crença
de que o monopólio é essencialmente anticapitalista e contra
os valores  comunitários e individuais americanos  tradicionais,
que provavelmente sejam os mesmos dos sem terra brasileiros,
desejosos de se integrarem na sociedade moderna via a propriedade da terra. 
A licença GPL impossibilita a criação de monopólio em cima de um
produto GPL. Como facilita o trabalho colaborativo, possibilita a criação 
de softwares que poucas empresas teriam cacife de pagar o desenvolvimento.
A licença GPL coloca em risco, a longo prazo, os monopólios estabelecidos. 

O monopólio se apropria de  valor sem que haja mérito no produto,
pois a *liberdade de empreendimento* (capitalismo)  de possíveis
concorrentes foi anulada de alguma forma indesejada. 
Vejam como a sociedade americana 
está mais preocupada com o monopólio da Miccrosoft do que o Brasil ou Europa. 
Monopólio é essencialmente anticapitalismo. Monopólio é do tempo
das companhias das indias ocidentais e da economia imperial  Britânica.  


Associar SL com comunismo é uma das táticas da Microsoft para tentar legitimar socialmente 
o seu monopólio diante da opinião pública americana. 

Porém, qualquer sujeito e empresa  que não gostem das
amarras de monopólios, se bem informados,  apoiam o SL. De fato, a nivel mundial, 
os marxistas são apenas uma pequena parcela de apoiadores do SL. 
Eles apoiam (até o momento)  com pouco código. Apenas alguns deles tomam medidas efetivas 
de suporte ao SL quando estão em cargos públicos. No Brasil, devido a miséria cultural
da elite endinheirada, onde os ex(?)-marxistas (o tal conglomerdado ex(PC -AP-ALN ) fhceano ) 
tomaram a tarefa de administrar o Estado,
não seria de estranhar que alguns marxistas e associados  tenham um papel importante de apoio ao SL.
Porém, talvez a IBM do Brasil com o tempo seja mais poderosa para difundir 
o SL na administração pública, para vender serviços e mainframes, do que alguns  
governos petistas acima do Rio Grande do Sul. 

Alguns setores organizados de  esquerda talvez apoiem o SL e tentem  associá-lo ao socialismo talvez
na tentativa de popularizar o socialismo  e até *salvar*  o marxismo. 
Os partidos de esquerda no mundo andam procurando novas bandeiras. 
Muitos ganham o seu pão carregando bandeiras.  Outros roubando o Estado. 
Outros roubando os consumidores. 

O movimento do SL possui uma  diversidade de apoio  muito ampla. 
Não será estranho que alguns socialistas tentem parasitá-lo. Mas nada pode impedí-los.

> O Debian entra nisso como a distribuicao software livre, que eh um
> dos seus objetivos.
>
> Se o MST esta interessado no Debian, no Linux, e no software livre,
> isso eh algo que devemos comemorar. Apesar de muitos nao concordarem
> com as acoes do MST, foi atraves dele que a reforma agraria comecou
> a funcionar no Brasil. Se o governo FHC se gaba de ter assentado nao
> sei quantas pessoas, nao foi sem pressao do MST.
>

	Mas talves a proximidade do SL com os sem-terra seja maior
do que se imagina. A licença GPL nasceu principalmente a partir de
trabalhadores intelectuais  que estavam cansados de ver a 
produção intelectual cercada por uma barreira de segredos. É
uma espécie de reforma agrária em cima da propriedade intelectual.
A licença GPL facilita que algumas pessoas ganhem 
dinheiro com consultoria e montem seus negócios, 
mas dificulta que elas monopolizem o conhecimento, cercando-o com
barreiras que impedem a livre circulação de idéias.
Ensinar GNU/linux para filhos e agregados dos sem terra é a única maneira
de não adestrá-los no uso de um produto fornecido por um monopólio;
é colocá-los diante da possibilidade de semear no terreno 
previamente arado por dezenas de pessoas espalhadas pelo mundo,
terreno que não ficou oculto por uma manto de segredo comercial. 

Que dê bons frutos o uso de Debian Gnu-Linux pelos sem terra.

Mas,  bá  tchê, dizer que SL é socialismo e portanto
é adequado aos sem terra é brincadeira! 


Odair 



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