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Re: História do DOS, OS/2 e Mach



> Cara, o artigo está ótimo, enriqueça com alguns detalhes a mais
> (se é que ainda tem algum sobrando :D ) coloque uma bibliografia e 
> coloquemos lado a lado com a história do software livre como num 
> timeline comparativo e você terá um artigo de nível internacional :D
> 
> Pode publicar na /. ou oferecer para qualquer revista ...


	Aqui está o texto, em formato Emacs Outline Mode, conjunto de
caracteres ISO-8859-1.  Aceito revisões e contribuições.  Se alguém achar
que é muito fora do tópico, por favor sugira outro fórum mais adequado!

	Tinha pensado em oferecer primeiro à Revista do Linux e à CIPSGA,
depois com o retorno revisar, traduzir e oferecer ao /., GNU, etc.  Talvez
até Linux Journal, urra!


* Uma História dos Sistemas Microsoft e sua Relacão com os Sistemas
Padronizados e Abertos

** Por que se preocupar com sistemas padronizados ou proprietários?

	Uma tendência perturbadora para os amigos dos sistemas livres, e
inclusive para quem ainda acredita em sistemas abertos[1], é como se tem
usado os termos "padrão" e "aberto" para descrever sistemas fechados e
proprietários como o Windows em suas diversas encarnações e a arquitetura
Intel em contraste com sistemas realmente padronizados como os diversos
Unices
e a arquitetura SPARC, por exemplo.

	Esse erro tem origens históricas relativamente antigas no meio da
informática.  Explicar cada detalhe dessa história seria um artigo mais
longo, em várias partes; aqui vamos somente delinear a história do
Windows e como a Microsoft deliberadamente se afastou do ideal dos
sistemas abertos, assim se colocando na posição de precisar
espalhar desinformação sobre os sistemas realmente padronizados, além
de semear confusão sobre o próprio conceito de sistemas padronizados
ou abertos.  Vamos passar direto sobre a história de como o DOS foi
parar na Microsoft e na IBM, o que já dá uma história em si.


** O MS-DOS como caminho de migração para sistemas abertos.

	O MS-DOS da Microsoft é modo real.  Isso significa que apenas
um programa pode rodar ao mesmo tempo no sistema.  O projeto original previa
também um DOS multiusuário, que mixou logo no começo.  Isso consta da
história do DOS conforme a Introdução à MS-DOS 3.0 Encyclopedia[2].

	Então a Microsoft comprou com a AT&T uma licença do Unix, e
lançou uma versão para Intel 80286, que era o Xenix.  A idéia era
migrar todos os usuários de DOS para Xenix.  Um dos piores problemas
era o uso de "/" pra designar opções para o COMMAND.COM, o
interpretador padrão de linhas de comando do DOS, também conhecido
como "Aviso de Comando MS-DOS" ou simplesmente "linha de comando".
Por isso a versão 2.11 do DOS tinha um parâmetro do CONFIG.SYS chamado
SWITCHAR que aceitava os valores "/" ou "-".  O "-" era o padrão na
2.11.  O plano era que na 3.0 o padrão seria "/", e aí a migração para
Xenix seria facilitada, porque não haveria problemas mais com os nomes
de caminho do Unix.  Isso está documentado no manual "ITT XTRA MS-DOS
2.11 Reference", sendo que ITT XTRA era uma das versões OEM do DOS.
Nunca consegui uma cópia dele ou do manual equivalente da própria
Microsoft, então essa informação é de segunda mão.


** O caminho do monopólio I: com a IBM.

	Quando a Microsoft percebeu que junto com a IBM ela tinha poder
para dominar o mercado sem precisar da compatibilidade com POSIX,
vendeu o Xenix à SCO e partiu para o DOS modo protegido, num projeto
conjunto com a IBM.  O plano era lançá-lo como DOS 3.0, o que se provou
impossível.  Então o DOS modo real com acionadores de rede foi lançado como
DOS 3.0, e o DOS protegido ia ganhar o nome de DOS 4 - por isso houve tanto
tempo entre as versões 3 e 4 do DOS.  Mas aí o projeto atrasou e o DR-DOS
começou a ganhar mercado, aí lançaram uma nova versão do DOS modo real como
4.0; chegaram a pensar em ainda lançar o DOS protegido como DOS 5, mas
decidiram simplesmente mudar o nome para OS/2, combinando com as novas
máquinas PS/2 da IBM.

	Ao mesmo tempo criaram o Windows como um ambiente para rodar sobre
DOS.  A idéia era vender eventualmente o DOS protegido com o Windows.  Mas a
IBM achou que o Windows era ruim demais e não tinha conserto (no que ela
tinha toda a razão), e forçou a Microsoft a trocar o Windows protegido pelo
Presentation Manager, que é a interface gráfica do OS/2 até hoje.

	Até esse momento a Microsoft ia cuidar das versões ímpares do OS/2,
e a IBM das pares - algo como o acerto entre a Intel e a HP sobre o IA-64
(Merced/Itanium, McKinley).  O 1.0 foi lançado, mas a Microsoft não fez a
tarefa de casa dos drivers.  Além disso a compatibilidade com aplicações
modo real era muito ruim, porque a IBM ia demorar a ter uma máquina 386 e
queria que o OS/2 rodasse no 286, que não tinha modo virtual.  O resultado é
que a "caixa de compatibilidade DOS" do OS/2 ficou conhecida como "caixa de
tortura DOS".  Finalmente, o OS/2 presumia uma configuração parruda de uma
máquina de boa qualidade.  Para quem tinha IBM, Compaq, Xerox ou coisa assim
tudo bem, mas naquela época os /clones/ de IBM-PC eram ainda piores que
hoje, e aí o OS/2 dava mensagens de erro de montão.  Para complicar, essas
mensagens de erro eram no formato padrão da IBM, que praticamente não tem
informação útil nenhuma, somente um código que está muito bem explicado numa
documentação enorme, cara e que ninguém tinha.  Além disso o OS/2 custava
US$ 500 ou coisa assim


** O caminho do monopólio II: sem a IBM.

	O resultado disso tudo é que a adoção do OS/2 não aconteceu nas
versões 1.X.  Antes de chegar à versão 2.0, a Microsoft percebeu que não
precisava mais da IBM porque o MS-DOS já tinha um domínio muito grande do
mercado.  Então rompeu o acordo com a IBM, que previa também que o Windows
ia ter uma versão modo protegido mas não modo virtual, enquanto o OS/2 2.0
ia rodar no 386 com modo virtual, facilitando a migração de aplicações DOS.
Aí ela lançou o Windows 3.1, que rodava aplicações DOS em modo virtual,
portanto melhor que o OS/2 1.3.  A IBM ainda lançou o OS/2 2.0, inclusive
com uma interface melhorada, a WorkPlace Shell (WPS), mas rodando somente em
386 com 8MB de memória e uns 70 MB de disco.  Na época isso era considerado
excessivo, a WPS era muito diferente do que as pessoas esperavam, a
configuração inicial era muito pobre e feia, e ainda não havia muitos
acionadores de dispositivo, especialmente impressoras.  Em contraposição o
Windows modo virtual exigia apenas 4MB, o modo protegido 2MB e o modo real
(que ninguém usava) 1MB.  Tinha muitos acionadores, uma interface familiar
(semelhante à interface do Windows 2 e OS/2 1), e a Microsoft logo cancelou
o Word e Excel para o OS/2, se dedicando às versões para Windows 3.1.

	Por essa época a Microsoft já desenvolvia o OS/2 3.0, apelidado de
OS/2 NT, que rodava em cima de Mach [3] ou coisa
parecida.  O que ela fez foi arrancar fora o Presentation Manager e colocar
o Windows por cima, e lançar com Windows NT.  Dado o fracasso do OS/2 e do
PowerPC no mercado de massa, e à preocupação com outros assuntos, a IBM
acabou desistindo do OS/2 NT e a versão 3.0 (Warp) acabou sendo simplesmente
uma otimização da 2.3 - até algumas telas diziam 2.3 em vez de 3.0 Warp.


** Por que nunca ouvimos falar disso antes?

	Um dado interessante é que com o fim da mania de sistemas abertos e
a consolidação do domínio da Microsoft ela deixou de falar que o NT era
baseado em micronúcleo ou orientado a objeto, cancelou as versões RISC e as
personalidades OS/2 e POSIX, e só lançou a versão multiusuário porque a
Citrix
fez sucesso.




[1] Aqui considero que sistemas livres são um subconjunto dos sistemas
abertos.  Para o conceito de sistemas livres, ver
http://www.gnu.org./philosophy/categories.html e para o conceito de
sistemas padronizados, ver
http://foldoc.doc.ic.ac.uk/foldoc/foldoc.cgi?standard.
[CONSERTE-ME: Conseguir uma boa definição de "sistemas abertos".]

[2] The MS-DOS Encyclopaedia, Ray Duncan, Editor
1.988, Microsoft Press, Redmond, WA, EUA.
Com prefácio de William Gates III.
[CONSERTE-ME: obter referência bibliográfica completa.]

[3] [CONSERTE-ME: Localizar os artigos relevantes da Byte.]




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